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domingo, 24 de outubro de 2010

Álvaro, Matilda e Vinícius – um triângulo amoroso

Álvaro, Matilda e Vinícius – um triângulo amoroso



O mais legal do rio gastronômico é conseguir manter ainda alguns de seus clássicos, que já deveriam ter sido tombados . Ontem, convidados pelo amigo botafoguense Vinícius Cantuária, fomos conferir um deles: Alvaro's no Leblon.
Na entrada, uma porta de madeira com letreiro dourado em letra cursiva e um moço pra guardar o carro – sem a cara daqueles bonecos de Vallet Park, tampouco dos indesejáveis flanelinhas. Entrando, vários garçons vestidos com ternos brancos e abas coloridas – cada garçon com uma cor – e um desejo nos olhos de cada um deles de ter Cantuária e seus convidados (eu e LM) na mesa de sua praça (reza a lenda que o cliente alvinegro é bom de gorjeta).

Sentamos logo na mesa da entrada à direita, num cantinho bem agradável. Foi só sentar pro caboclo da “Lua e Estrela” pedir uma porção dos inigualáveis pastéis sortidos do Álvaros e começar a bater um dedo de prosa, como diz o professor Armando de Olhos D'água. Vinícius, além de grande cantor, compositor e instrumentista (que vai do jazz à MPB e o pop, com a desenvoltura de Nilton Santos nos velhos tempos com a camisa da estrela solitária ) é das figuras mais engraçadas da Guanabara – falante, mas em tom “bossanovístico”, tem um humor peculiar, a ironia escondida debaixo de cada acorde diminuto. Os pastéis chegaram e Cantuária logo apontou pra uma mesa na esquerda falando baixinho: “Tá vendo aquela mesa ali? Há vinte anos sentei nela com Tom Jobim e Norminha e recebi o maior apoio do maestro pra arrumar as malas e me mudar pra NY. Tom disse: Vinícius, vá! Começa lá como der, que vai dar tudo certo pra você, o Brasil é uma merda mas é bom, Estados Unidos é bom, mas é uma merda. Depois vem aqui só pra rever os amigos, ir ao Maracanã, à praia...mas antes de ir, me faz um favor, deixa a Norminha aqui comigo! (Norminha, a ex de Cantuária, é considerada por toda a classe de músicos cariocas, uma das mais belas mulheres que o Rio já viu). Vinícius seguiu o conselho de Tom e mora no Brooklyn (a Gávea de NY, segundo ele) há quase 20 anos e, contrariando o maestro, Norminha também foi e, apesar de não viverem mais juntos, continua morando no Brooklyn.

Os pastéis desapareceram e Vinícius logo pede um presunto de parma que eu já tava namorando, vendo ele atrás do balcão. Com uma apresentação tão apetitosa LM (que não come carne) não resistiu a dar uma beliscada. Pensei: “Hora de pedir o vinho!” O mais legal pra mim, é que sempre dá pra se virar, mesmo em casas como o Álvaros onde o forte não é a adega. Escolhi um vinho que achei que iria bater uma bola com o parma e o m.a.r.v.i.l.h.o.s.o filet batido que Vinícius havia pedido (e também pra dar nome a resenha que iria escrever!): “Garçon, traz o Matilda!
Matilda é velho conhecido, ou conhecida ! um vinho australiano, produzido pela casa Bremerton em Langhorne Greek perto de Adelaide, bem fácil de ser encontrado por aqui e bem fácil de beber, além de ser amigo do bolso– simples e robusto (um zagueirão do Rugby australiano), 14.5 % álcool, com aquele “gostim” na boca de framboesa e violeta, um corte de Shiraz 24 % , Cabernet Sauvignon 64% e de Merlot 12%. Gol! O filet estava “sensa”! O parma, um sonho, e os pastéis, pra tirar qualquer um do sério. Sem falar no papo com Vinícius, sempre diversão garantida.

O triângulo amoroso “Álvaro's, Matilda e Vinícius” é coisa de cinema!


P.S: no final ainda teve aquele pudim de leite (nota 10) e a goibada Cica de lata com catupiri – 3 colheres pra dividir.



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