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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Acarajé com vinho?





Acarajé com Vinho?


Keka é uma das baianas com selo de carioca "uso capião". Radicada no Rio há décadas, vem mudando seu acarajé de lugar de tempos em tempos. Atualmente ocupa um simpático quiosque na Lagoa, próximo ao Parque da Catacumba.
O lugar é bacana, "hip", com um telhado de sapê e garçonetes baianas com figurinos de princesas do Congo!
Sábado passado, resolvemos conferir "O KEKA BAIANA TEM".
Chegamos e pedimos uma mesa para 4 pessoas com vista pros patinhos da Lagoa. Como estou para ver alguém harmonizar vinho com acarajé - talvez o menino prodígio Yan Braz consiga!:) - pedimos 4 caipirinhas de limão com maracujá e uma porção de "acarajezinhos" para começar os trabalhos e esquentar para os próximos quitutes. Quando, de repente, chega e se arma a nosso lado uma daquelas mesas modelo "familiar", com pai, mãe, sogro e sogra, cunhados, tias e bebês - com seus vários carrinhos e inúmeras babás. De cara, já sabia que "Parabéns Pra Você" era só uma questão de tempo. O povo fala alto, né minha gente?! Meu ouvido periférico logo começou a trabalhar e a perceber que a tarefa não seria das mais fáceis pro garçon (e muito menos pra mim), quando ouço o que deveria ser um dos cunhados falar:

- Gaaaaarçon, qual a sua sugestão pro almoço?
- Olha, temos uma ótima moqueca de peixe, responde o garçon.
- Peixe? Eu não como peixe, interrompe o homem, rispidamente.
Um pouco constrangido, o rapaz sugere:
- Quem sabe o senhor não gostaria de um bobó de camarão?
- Bobó de camarão? De jeito nenhum! Tampouco como camarão!!
- Bom, temos uma costelinha de porco assada no alecrim que é  bem interessante, meu senhor.
- Porco?! Rapaz, você só pode estar de brincadeira! Neeem pensar!!
- Hummm, quem sabe então uma galinha?
- Galinha...? Mas que parte da galinha, hein?
- Temos coxa e sobre-coxa.
- Ih... De jeito algum! Só como o peito, e olhe lá! Traz pra mim o cardápio infantil!

Depois dessa, o parabéns cantado por todos a plenos pulmões foi a cereja do bolo.


P.S: Pedimos bobó de camarão e moquequinha de peixe, que estavam ótimos. Ficamos a espera de voltar lá numa quarta à tarde com Yan Braz e tentar harmonizar o tal rieseling - bem mineral da Alsace - com o acarajé e guardar o jerez de Castilla y Leon para fazer par com o bolinho de estudante! 



segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Barca Velha 1966

Na minha opinião, Lisboa é das cidades mais aprazíveis do mundo. Dona de uma luz belíssima, margeada pelo poético Tejo, cheia de cantos e encantos, que vão do Castelo de São Jorge ao Clube de Fado em Alfama... Passando pela ginjinha de fim de tarde no Rossio, até a Casa da Morna, do amigo Tito Paris em Alcântara. Difícil mesmo é apontar o taxi para o aeroporto na hora de ir embora e encarar o excesso de saudade na bagagem.
Numa das últimas vezes que estive na cidade, a convite de um grande amigo alfacinha, saímos para jantar na véspera do regresso ao Rio. O restaurante escolhido foi o pitoresco Páteo, localizado no bairro de Xabregas,amplo, de pé direito alto, onde come-se o melhor bacalhau em lascas na broa de milho com grelos do planeta– uma casa alentejana, com certeza!
Bem, como eu gosto “pouco” de vinho (sobretudo dos vinhos portugueses), resolvi, antes de mais nada, visitar a adega ( Garrafeira)  – os vinhos, na verdade, ficam deitados em cima de uma longa mesa de madeira colonial. Fui olhando cuidadosamente, a procura dos alentejanos, para fazer jus à especialidade da casa mas, para a minha surpresa, dei de cara com o famoso duriense Barca Velha, safra 1966. Como se já não bastasse me deparar com um dos meus vinhos preferidos no mundo, encontrar uma “ampola” do meu ano de nascimento...foi demais! Não tive dúvidas:

    • Garçom, faz favor! O senhor poderia abrir esse Barca Velha 66?

    • Pois não vai ser possível.

    • Por quê?! O senhor não pode me vender essa garrafa por alguma razão específica?

    • Na verdade, vende-la posso. Entretanto, não posso servi-la ao senhor.

    • Mas...por quê?, pergunto já com tom de desânimo.

    • Não posso servi-la ao senhor porque este vinho precisa de, no mínimo, seis horas de decanter!
    Perplexo com a seriedade daquele garçom "tuga", eu, já com pouca paciência, relutei:

    • Ok, amigo. Entendo que, talvez para que seja alcançada a excelência e a plenitude deste vinho, o senhor esteja certo. Mas, de qualquer forma, não me importo. Uma vez que é a nossa última noite em Lisboa, vamos beber este vinho mesmo sem ser decantado, e recebendo com louvor seus supostos taninos rebeldes e depósitos!

    • Desculpe-me senhor, mas não será mesmo possível. Como já lhe disse, este vinho necessita ao menos de seis horas de decanter. Mas, se por acaso o senhor queira para amanhã, pode me avisar com seis horas de antecedência, que o vinho estará cá a sua espera.
Enfim, não houve argumento nem reza que fizesse o cidadão nos servir o vinho, mas como a probabilidade dele ter vendido essa garrafa a outro cliente é quase nula , quem sabe da proxima vez que eu for a Lisboa, não me programo para ir ao Pátio com 6 horas de antecedencia ?! :)